De repente hoje deu
uma vontade de desenhar!
Desenhar no meu caderno
inteiro, na parede do quarto, em uma camiseta antiga, nas minhas
cobertas, no teto da cozinha, na calçada de casa, no asfalto,
postes, carros, na parede da moça que vende produtos de limpeza -
ela tem um espaço em branco acima das prateleiras. (É branco
demais!)
Vontade de grafitar uma
imagem diferente nas placas de trânsito. Pintar os brancos de negros
e os negros de azuis. Pintar um cachorro. Pintar os ratos de amarelo
e desenhar uma bolinha vermelha na bochecha só pra parecer com o
pikachu.
Desenhar no corpo de
mulheres, desenhar no corpo de mulheres, desenhar no corpo de
mulheres...
Desenhar um 'Fuck
me' na testa de vadias disfarçadas de santas e desenhar um 'Hug
me' na testa dos caras metidos a garanhão e independentes.
Desenhar em todas as
canecas, chinelos, camisetas, livros, tênis... Pintar o céu, pintar
a água, a fumaça. Desenhar um som, um grito, uma música.
Desenhar um perfume; um cheiro de miojo; cheiro de casa de vó;
cheiro azedo.
Pintar olhos
verdadeiros na cara nas pessoas. Desenhar a alma delas no peito.
Desenhar casas quentes,
um prato de comida, um cobertor.
Desenhar a paz nas
favelas; Desenhar pares de olhos e ouvidos nos condomínios.
Pintar uma coroa na
testa de todos que pegam o trem no Terminal Grajaú às 6 da manhã.
Grafitar Nossa Senhora
nas igrejas Universais; Buda nas igrejas católicas; Shiva nas
Mesquitas; Arca de Noé no laboratório de Biologia; Marx na entrada
do Centro Empresarial; Mario no escritório da Sony; Símbolo do
Corinthians na parede do Palestra Itália; Desenhar um negrão pelado
na parede de escritórios;
Me deu vontade de pegar
um rolo de papel pardo e contar toda a história de alguém por meio
do desenho. E acabar com os lápis de 36 cores que tenho.
Se acabar o verde, faço
a grama de azul. Se acabar o azul, faço o céu de amarelo. Se acabar
as cores, faço de nanquim. Depois de giz. Depois de carvão, caneta,
lápis, tinta de tecido, tinta relevo, caneta marca-texto, cola
colorida, lama, geleia, sangue...
Hoje acordei com
vontade de desenhar no mundo.
Na verdade essa
vontade me vem praticamente todos os dias.
Não é fuga do mundo
real, é analgésico pra dor do vazio (que todos sentem).
É minha arma;
é minha
voz;
é o estar bem com a satisfação do tempo de Agora;
É parte de mim;
é minha mente;
é minha Paz.
Eu entorto com um pincel as desgraças que poderiam me foder.
|
Camiseta feita em 15 de Julho de 2010. (obs: a criação não foi minha) |
Ósculos,
Lucas Andrade