Hey hey hey!
Depois de muitos e muito meses sem postar, vou reavivar esse blog com um post
que representa muito para mim. Gostaria MUITO que lesse até o final, pois é um dia
especial.
QUATRO CADERNOS
No dia 17 desse mês, eu fiz mais uma camiseta a pedido. Mas,
meus caros, não era uma camiseta qualquer, o desenho é relativamente simples,
não tive que criar nada, é o desenho da Agnes, do “Meu Malvado Favorito”, quem
pediu foi o Nico, um brother da faculdade que vai presentear sua namorada. O que ela tem de especial? É a camiseta de número 500!
Quando fiz minha primeira camiseta, em 19 de Dezembro de 2009, (quando eu havia
saído do meu emprego na multinacional e fui reprovado pela primeira vez nos
vestibulares), eu resolvi pegar um caderno sem pauta e escrever na primeira
página:
“Camiseta #1. Assunto: Smashing Pumpkins. Preta – P. Para quem: Eu mesmo.”
A partir deste dia eu postei a foto no Orkut, disse que estava fazendo
camisetas, comecei a anotá-las nesse caderno e falar com amigos e familiares
que esse seria meu mais novo formato de arte (e porque não?) fonte de renda.
Fico me perguntando como isso surgiu. Talvez porque na
última semana de emprego o RH da empresa que eu trabalhava liberou umas
camisetas e canetinhas para os funcionários fazerem desenhos sobre as mudanças
ocorridas na empresa. Não deu outra: um monte de gente pediu pra eu desenhar
suas idéias.
Mas não sei se veio daí a idéia. Nessa mesma época uma pessoa
muito importante pra mim tinha me dado de presente uma camiseta simples escrita “YOU DO
NOT TALK ABOUT FIGHT CLUB”. Feita por ela mesma. [Na verdade ela não me deu a camiseta. Ela fez pra
mim, mas esqueceu de me entregar, o tempo passou e ela acabou pegando pra ela. Hahaha]
Mas talvez esses dois
fatos só tenham surgido porque eu sempre pensei em fazer quadros. Mas meu problema é que um quadro pintado pode ser bonito,
pode ornamentar uma sala e até passar uma mensagem/sensação para quem passa por
aquela sala. Mas não é algo necessário e essencial para as pessoas, não tanto
quanto uma camiseta!
Além disso, as pessoas dessa cidade, acostumadas a guardarem
seus sentimentos a sete chaves, poderiam dessa maneira expressarem-se, com o meu intermédio. Através de imagens. As
pessoas falam pra mim a idéia e eu transformo em desenho; E essas imagens
estarão (literalmente) estampadas em seus peitos durante o dia inteiro;
É arte ambulante.
Na qual o dono da camiseta participa na criação;
É exposição de graça,
já que no ônibus, na escola, no parque ou no trabalho, eu via as pessoas usarem
e não cobravam para que os outros visualizassem-nas!;
É usar suas vestes
para expressar seus sentimentos e sua personalidade. E não simplesmente
mostrar o tanto de dinheiro que você tem, seus status ou sua ignorância. Aliás, cá entre
nós, fico espantado em ver pessoas que usam uma uma certa marca que tem o símbolo
da Ku-klux-klan em suas camisetas, sem ao menos saberem (Fato! Não vou citar
aqui a marca, mas se tiver curiosidade pesquise, ou me pergunte.).
Além disso, eu fazia questão de ser o mais acessível possível. Pois pra mim, arte é para TODOS, não só
para uma minoria que se acha melhor que os outros.
Por isso, eu comecei vendendo a R$15 (e assim ficou durante um BOM tempo). Pois eu achava (a ainda
acho!) um absurdo você pagar algo mais do que isso por uma camiseta, por um
desenho que pra mim foi tão prazeroso fazer. Nem sempre foi prazeroso, mas
estava LONGE de parecer um trabalho enfadonho. (Sim, o preço aumentou, mas pra quem demora mais de 6 horas pra fazer uma camiseta, eu acho justo, não? :/ )
E assim se seguiu meu romance camisetístico. Eu fazia
camisetas, contava os centavos para sobreviver dos salgados de R$0,70 que eu
comprava pra tapear a fome no cursinho, enquanto estudava feito louco. Já
economizei dinheiro por dois meses só pra comprar uma touca. Já borrei camiseta
por estar com sono, por ter virado a noite pintando, e ter que começar tudo de
novo. Já borrei uma camiseta com lágrimas. Já tive que enfrentar amigos e
familiares que falavam que isso não ia dar em nada e que eu tinha que correr
atrás de sonhos que não eram meus. Lembro que uma vez um desavisado me disse “Po, cara! Se nada der certo você pode começar
a vender essas camisetas” e mal sabia ele que realmente nada tinha dado certo e que esse era
meu Plano D...
Eu, minha convicção, e algumas poucas (porém valiosíssimas!) pessoas que, aos poucos, iam
percebendo que isso é coisa séria
pra mim. E foi assim, um por um. A cada novo elogio, a cada superação na
técnica, a cada dia que eu percebia que pelo menos UMA pessoa ao meu redor usava
uma camiseta minha. A cada novo jejum sem a vontade. Eu acreditava em algo
invisível aos meus olhos. Distribuindo partes de mim a cada nova ideia de camiseta.
Assim, fiz camisetas a pedido de quase todos os amigos e
familiares, vizinhos, colegas de classe, amigos de amigos, indicações para
terceiros, quartos... pessoas de várias regiões de São Paulo, Rio de Janeiro,
Paraná, Rio Grande do Norte... Pediam camisetas sobre filmes, livros, músicas, poesias, bandas...
Camiseta #1. Para mim mesmo. |
Eu acreditava, e acredito, no invisível.
Eu já fiz pessoas quererem pagar muito mais por uma
camiseta. Eu já ouvi histórias de que amigos, de tribos diferentes, identificaram
outros amigos meus só porque estava usando uma camiseta minha. Eu já fiz
pessoas chorarem simplesmente com um desenho numa camiseta. Além disso também
já vi gente ficar dias com a mesma camiseta por ter gostado tanto! [prefiro não
citar nomes! hahaha].
E esses, foram os relatos que chegaram até a mim, que me
contaram.
Nesse ‘algo invisível aos meus olhos’ que eu disse acima,
não é de Deus que estou falando, nem de dinheiro, fama ou status. Estou falando
de coisas que acontecem o tempo todo.
Brilhos no dia-a-dia.
E tem certos brilhos que acontecem por nossa causa. E muito
provavelmente, na maioria desses brilhos, JAMAIS saberemos que fomos nós que os causamos. Pois não temos
acesso a esses acontecimentos.
Fulana se apaixonou um pouco mais por
Ciclano porque ele estava usando uma camiseta? O motorista do ônibus mudou sua
conduta com sua mulher depois de ter visto minha camiseta sobre os olhos? O seu
João do bar passou a odiar um pouco menos sua vida miserável depois que usou
uma camiseta com uma ideia sua? Será que alguém amou um pouco mais ao ver Amanda desfilar pela rua com sua camiseta sobre amor?
Não sei.
Só tenho acesso ao envio dessas demandas “almáticas” das
pessoas. Agora, o que elas provocam?... Não sei. Não sei mesmo. Isso só fica no
mundo das minhas deduções. Deduções pretensiosas que acham que assim ta
melhorando o mundo, ta pagando umas contas, ta dando seu grito silencioso e sendo
feliz.
Talvez. Na falta de uma Fé sem sentido... Prefiro acreditar
nisso.
Então é isso!
Parabéns pra mim! Obrigado a todos que me apoiaram, podem
ter certeza que eu não esqueço de vocês! E obrigado também aos que me
criticaram. Claro. Doeu, doeu muito... muito mesmo. Mas peguei suas pedras e construí
uma casa.
Foram quatro cadernos cheios com as anotações de cada camiseta. Não é
uma história a lá “A procura da Felicidade”. Não fiquei rico, não abri uma
loja, nem uma empresa. (O máximo, e que já me deixa feliz, é ter grana pra comer na rua). Tem camisetas que já desbotaram, rasgaram, mofaram.. Mas
eu sei que valeu a pena. E isso, ninguém
me tira.
500 partes de mim espalhadas pelo mundo. Voldemort teria
inveja!
Que venham as próximas 500.
É noiz.
Fiquem na mais absoluta Paz.
Lucas Andrade