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segunda-feira, 29 de julho de 2013

29. Razão de se camisetar

Hey hey hey!
Depois de muitos e muito meses sem postar, vou reavivar esse blog com um post que representa muito para mim. Gostaria MUITO que lesse até o final, pois é um dia especial.


    QUATRO CADERNOS

      No dia 17 desse mês, eu fiz mais uma camiseta a pedido. Mas, meus caros, não era uma camiseta qualquer, o desenho é relativamente simples, não tive que criar nada, é o desenho da Agnes, do “Meu Malvado Favorito”, quem pediu foi o Nico, um brother da faculdade que vai presentear sua namorada. O que ela tem de especial? É a camiseta de número 500!



      Quando fiz minha primeira camiseta, em 19 de Dezembro de 2009, (quando eu havia saído do meu emprego na multinacional e fui reprovado pela primeira vez nos vestibulares), eu resolvi pegar um caderno sem pauta e escrever na primeira página:
“Camiseta #1. Assunto:  Smashing Pumpkins. Preta  –  P. Para quem:  Eu mesmo.”

      A partir deste dia eu postei a foto no Orkut, disse que estava fazendo camisetas, comecei a anotá-las nesse caderno e falar com amigos e familiares que esse seria meu mais novo formato de arte (e porque não?) fonte de renda.
      Fico me perguntando como isso surgiu. Talvez porque na última semana de emprego o RH da empresa que eu trabalhava liberou umas camisetas e canetinhas para os funcionários fazerem desenhos sobre as mudanças ocorridas na empresa. Não deu outra: um monte de gente pediu pra eu desenhar suas idéias.

Doug, Fe e Eu, no meu último dia na empresa,
vestindo nossas camisetas da empresa, que desenhei.
Na minha, o garoto está se desacorrentando e indo embora com um
 lápis na mão, de chinelo. Representa minha saída da empresa para
viver da arte, fazendo meu próprio caminho.
Mas não sei se veio daí a idéia. Nessa mesma época uma pessoa muito importante pra mim tinha me dado de presente uma camiseta simples escrita “YOU DO NOT TALK ABOUT FIGHT CLUB”. Feita por ela mesma. [Na verdade ela não me deu a camiseta. Ela fez pra mim, mas esqueceu de me entregar, o tempo passou e ela acabou pegando pra ela. Hahaha]
       Mas talvez esses dois fatos só tenham surgido porque eu sempre pensei em fazer quadros. Mas meu problema é que um quadro pintado pode ser bonito, pode ornamentar uma sala e até passar uma mensagem/sensação para quem passa por aquela sala. Mas não é algo necessário e essencial para as pessoas, não tanto quanto uma camiseta!
      Além disso, as pessoas dessa cidade, acostumadas a guardarem seus sentimentos a sete chaves, poderiam dessa maneira expressarem-se, com o meu intermédio. Através de imagens. As pessoas falam pra mim a idéia e eu transformo em desenho; E essas imagens estarão (literalmente) estampadas em seus peitos durante o dia inteiro;
      É arte ambulante. Na qual o dono da camiseta participa na criação;
      É exposição de graça, já que no ônibus, na escola, no parque ou no trabalho, eu via as pessoas usarem e não cobravam para que os outros visualizassem-nas!;
      É usar suas vestes para expressar seus sentimentos e sua personalidade. E não simplesmente mostrar o tanto de dinheiro que você tem,  seus status ou sua ignorância. Aliás, cá entre nós, fico espantado em ver pessoas que usam uma uma certa marca que tem o símbolo da Ku-klux-klan em suas camisetas, sem ao menos saberem (Fato! Não vou citar aqui a marca, mas se tiver curiosidade pesquise, ou me pergunte.).
       Além disso, eu fazia questão de ser o mais acessível possível. Pois pra mim, arte é para TODOS, não só para uma minoria que se acha melhor que os outros.

      Por isso, eu comecei vendendo a R$15 (e assim ficou durante um BOM tempo). Pois eu achava (a ainda acho!) um absurdo você pagar algo mais do que isso por uma camiseta, por um desenho que pra mim foi tão prazeroso fazer. Nem sempre foi prazeroso, mas estava LONGE de parecer um trabalho enfadonho. (Sim, o preço aumentou, mas pra quem demora mais de 6 horas pra fazer uma camiseta, eu acho justo, não? :/ )
      E assim se seguiu meu romance camisetístico. Eu fazia camisetas, contava os centavos para sobreviver dos salgados de R$0,70 que eu comprava pra tapear a fome no cursinho, enquanto estudava feito louco. Já economizei dinheiro por dois meses só pra comprar uma touca. Já borrei camiseta por estar com sono, por ter virado a noite pintando, e ter que começar tudo de novo. Já borrei uma camiseta com lágrimas. Já tive que enfrentar amigos e familiares que falavam que isso não ia dar em nada e que eu tinha que correr atrás de sonhos que não eram meus. Lembro que uma vez um desavisado me disse “Po, cara! Se nada der certo você pode começar a vender essas camisetas” e mal sabia ele que realmente nada tinha dado certo e que esse era meu Plano D...
      Eu, minha convicção, e algumas poucas (porém valiosíssimas!) pessoas que, aos poucos, iam percebendo que isso é coisa séria pra mim. E foi assim, um por um. A cada novo elogio, a cada superação na técnica, a cada dia que eu percebia que pelo menos UMA pessoa ao meu redor usava uma camiseta minha. A cada novo jejum sem a vontade. Eu acreditava em algo invisível aos meus olhos. Distribuindo partes de mim a cada nova ideia de camiseta.
      Assim, fiz camisetas a pedido de quase todos os amigos e familiares, vizinhos, colegas de classe, amigos de amigos, indicações para terceiros, quartos... pessoas de várias regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Norte... Pediam camisetas sobre filmes, livros, músicas, poesias, bandas...
Camiseta #1. Para mim mesmo.



      Eu acreditava, e acredito, no invisível.

     Eu já fiz pessoas quererem pagar muito mais por uma camiseta. Eu já ouvi histórias de que amigos, de tribos diferentes, identificaram outros amigos meus só porque estava usando uma camiseta minha. Eu já fiz pessoas chorarem simplesmente com um desenho numa camiseta. Além disso também já vi gente ficar dias com a mesma camiseta por ter gostado tanto! [prefiro não citar nomes! hahaha].  
      E esses, foram os relatos que chegaram até a mim, que me contaram.
      Nesse ‘algo invisível aos meus olhos’ que eu disse acima, não é de Deus que estou falando, nem de dinheiro, fama ou status. Estou falando de coisas que acontecem o tempo todo.

      Brilhos no dia-a-dia.

      E tem certos brilhos que acontecem por nossa causa. E muito provavelmente, na maioria desses brilhos, JAMAIS saberemos que fomos nós que os causamos. Pois não temos acesso a esses acontecimentos.

     Fulana se apaixonou um pouco mais por Ciclano porque ele estava usando uma camiseta? O motorista do ônibus mudou sua conduta com sua mulher depois de ter visto minha camiseta sobre os olhos? O seu João do bar passou a odiar um pouco menos sua vida miserável depois que usou uma camiseta com uma ideia sua? Será que alguém amou um pouco mais ao ver Amanda desfilar pela rua com sua camiseta sobre amor?

      Não sei.

    Só tenho acesso ao envio dessas demandas “almáticas” das pessoas. Agora, o que elas provocam?... Não sei. Não sei mesmo. Isso só fica no mundo das minhas deduções. Deduções pretensiosas que acham que assim ta melhorando o mundo, ta pagando umas contas, ta dando seu grito silencioso e sendo feliz.

       Talvez. Na falta de uma Fé sem sentido... Prefiro acreditar nisso.




        Então é isso! 
     Parabéns pra mim! Obrigado a todos que me apoiaram, podem ter certeza que eu não esqueço de vocês! E obrigado também aos que me criticaram. Claro. Doeu, doeu muito... muito mesmo. Mas peguei suas pedras e construí uma casa.
      Foram quatro cadernos cheios com as anotações de cada camiseta. Não é uma história a lá “A procura da Felicidade”. Não fiquei rico, não abri uma loja, nem uma empresa. (O máximo, e que já me deixa feliz, é ter grana pra comer na rua). Tem camisetas que já desbotaram, rasgaram, mofaram.. Mas eu sei que valeu a pena. E isso, ninguém me tira.

500 partes de mim espalhadas pelo mundo. Voldemort teria inveja!
Que venham as próximas 500.


É noiz.
Fiquem na mais absoluta Paz.

Lucas Andrade


6 comentários:

  1. 500 camisetas é muita coisa, parabéns!!
    Curti muito o post, fiquei com vontade de encomendar uma camiseta, essa da Agnes ficou muito foda <3
    Boa sorte o/

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  2. Parabéns Lucas, seu trabalho é lindo.. mais linda ainda é a emoção que você transmitiu neste post, é o primeiro do blog que eu leio.. e percebi que voltarei mais vezes aqui! Sucesso, você merece!

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  3. Gratidão, Lara e Aline!
    Aline, obrigado! Leia os outros 28 posts também! HAHA
    Abração!

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  4. Parabéns mano, sucesso sempre, merecedor!
    ps: Voldemort ficou #chateado com seu comentário! hahahaha

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  5. hahaha Pod cre, 500 Horcrux não é pra qualquer um não, mano!
    Valeu, chapa!

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  6. É filhote, talento e sensibilidade não lhe faltam.
    A arte é uma busca pelo sentido do ser, é abandonar toda pretensão conceitual e se abrir para o livre.
    E em se buscando você se tornou essa figurinha impagável.
    Parabéns pela sua arte e pela pessoa que você é.

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